A exposição Forensic Architecture: True to Scale (Arquitetura Forense: Fiel à Escala), com abertura em 20/02/2020, explora o trabalho de pesquisa da agência investigando violações de direitos humanos ao redor do mundo. A imagem mostra a Forensic Architecture Investigation #15: The Bombing of Rafah (Investigação de Arquitetura Forense #15: O Bombardeio de Rafah) na faixa de Gaza (Cortesia: Forensic Architecture).
por MATT SHAW (Editor Executivo, Architect’s Newspaper)– 19/02/2020
Publicado em https://archpaper.com/2020/02/eyal-weizman-barred-from-us/
Tradução: Camilo Kolomi
O coletivo de pesquisa Forensic Architecture, conhecido por seu uso de análises arquitetônicas, espaciais e tecnológicas para investigar a violência estatal e corporativa, abre sua primeira exposição individual nos EUA hoje no Miami Dade College’s Museum of Art and Design (MOAD). Contudo, quando o fundador do coletivo, Eyal Weizman, estava em sua casa em Londres se preparando para voar para a abertura em Miami, recebeu um email da Embaixada Americana informando que seu visto havia sido revogado e que não estava autorizado a viajar aos EUA.
Quando Weizman foi até a embaixada solicitar um novo visto, foi informado pelo entrevistador que um “algoritmo” o havia identificado como uma possível ameaça por conta de pessoas com quem ele havia interagido, lugares para os quais havia viajado recentemente, ou uma combinação não identificada de ambos. Quando lhe ofereceram a oportunidade de “acelerar o processo” fornecendo nomes que ele julgasse que poderiam ter sido a causa do disparo dos alarmes, Weizman recusou.
Segue o pronunciamento completo, que será lido por sua sócia, professora Ines Weizman, no MOAD esta noite, e foi enviada por email ao The Architect’s Newspaper por Weizman:
Hoje (19 de fevereiro) eu deveria estar aqui com vocês no Museum of Art and Design em Miami para a abertura da primeira exposição individual do Forensic Architecture nos EUA, True to Scale.
Mas na quarta-feira, 12 de fevereiro, dois dias antes do meu vôo para os EUA, eu fui informado por um email da Embaixada Americana que o meu visto havia sido revogado e que eu não estava autorizado a viajar para os EUA. A mensagem de revogação do visto não informava seu motivo ou oferecia a possibilidade de apelar da decisão ou um visto alternativo que me permitisse estar aqui.
Também era uma viagem de família. Minha esposa, a Professora Ines Weizman, que também daria palestras nos EUA, e nossos dois filhos viajaram um dia antes de mim. Eles foram barrados no Aeroporto JFK em Nova Iorque onde Ines foi separada das crianças e interrogada por oficiais da imigração por duas horas e meia antes de autorizarem sua entrada.
No dia seguinte eu fui até a Embaixada Americana em Londres para solicitar um visto. Em minha entrevista o oficial me informou que minha autorização para viajar havia sido revogada porque o “algoritmo” havia me identificado como uma possível ameaça. Ele disse que não sabia o que havia disparado o algoritmo mas sugeriu que poderia ser algo em que eu estivesse envolvido, pessoas com quem eu tenho ou tive contato, lugares para os quais eu tenha viajado (eu teria estado recentemente na Síria, Irã, Iraque, Iemen, Somália ou me encontrado com pessoas destas nações?), hotéis nos quais eu tenha ficado, ou um certo padrão de relações entre outras coisas. Eu fui solicitado a fornecer à Embaixada informações adicionais, incluindo 15 anos de histórico de viagens, em particular para onde eu fui e quem pagou por isso. O oficial disse que os investigadores da Homeland Security poderiam trabalhar no meu caso mais rapidamente caso eu fornecesse nomes de qualquer um na minha rede que eu acreditasse que poderia ter disparado o algoritmo. Eu me recusei a fornecer estas informações.
Isso nós sabemos: estamos sendo monitorados eletronicamente por um conjunto de conexões – a rede de associações, pessoas, lugares, ligações e transações – que compõem nossas vidas. Essa análise da rede apresenta muitos problemas, alguns dos quais são bastante conhecidos. Trabalhar com direitos humanos significa estar em contato com comunidades vulneráveis, ativistas e especialistas, e lhe ser confiada informação sensível. Estas redes são a linha de vida de um trabalho investigativo. Estou alarmado que relações entre nossos colegas, parceiros e equipe estão sendo monitorados pelo governo americano como possíveis ameaças.
Esse incidente exemplifica – embora de forma menos intensa e em uma escala muito menos drástica – os aspectos críticos da “lógica arbitrária da fronteira” que nossa exposição busca apresentar. As violações racializadas dos direitos dos imigrantes na fronteira sul dos EUA são com certeza muito mais sérias e brutais do que as dificuldades burocráticas que um cidadão da Inglaterra possa experimentar, e estes imigrantes tem caminhos muito limitados para denunciar a violência da fronteira dos EUA.
Como eu anunciaria na palestra de hoje, esta exposição é uma ocasião para lançar uma investigação conjunta com grupos locais sobre violações em direitos humanos no centro de detenção de Homestead na Flórida, não muito longe daqui, onde crianças imigrantes tem sido mantidas naquilo que os ativistas descrevem como “condições desumanas, severas e militarizadas”.
Em nossa prática, exposições são tratadas como fóruns alternativos para prestação de contas, meios de informar o público sobre sérias violações dos direitos humanos. Principalmente, elas são também oportunidades de compartilhar com ativistas e comunidades locais os métodos e técnicas que reunimos através dos anos de trabalho de campo.