Luciana Schenk
Em relação ao trabalho que deve ser desenvolvido na Casa de Vidro há dois aspectos que se destacam quanto ao jardim, um diz respeito à sua elaboração, execução ao longo do tempo e a análise histórica que deverá ser realizada, assim como, os levantamentos cadastrais para que se possa fazer um registro de seu estado atual; outro aspecto é o de sua representação, quais os registros que foram feitos e como realizaremos tais registros.
A representação dos jardins ultrapassa seu tempo de criação, execução, duração ou existência. Registra sua concepção estética, os ideais de seu tempo e autor, nos remetendo à história do paisagismo. Os primeiros “paisagistas”, franceses, ingleses e italianos, liam os mesmo autores gregos. No entanto, as interpretações são distintas e geram produtos, projetos de jardim bastante diferentes. Os franceses abusam da geometria, topiaria e os ingleses apostam em espaços mais aleatórios, com desenhos orgânicos e uma vegetação muito mais densa, ressaltando o aspecto “selvagem” da natureza. As duas atitudes geram o jardim racional francês e o jardim romântico inglês. Ambos cuidadosamente controlados e projetados à minúcia.
Esse debate, esboçado de maneira sucinta deve ser aprofundado, porque ele revela o caldo cultural no qual Lina Bo Bardi se forma arquiteta em Roma. Suas referências conceituais e filiações ideológicas. É evidente sua propensão às ideias inglesas: o elogio do acaso, o pinturesco.
Para completar esse quadro, é necessário avaliar a influência do discurso moderno, do paisagismo moderno, na obra de Lina Bo Bardi. Nesse aspecto, o paisagismo brasileiro. Não a “paisagem invisível” de Peter Walk, mas a exuberância, o controle na construção da paisagem na arquitetura brasileira. O contato com Burle Marx deve ser melhor investigado. Sabe-se que a primeira exposição da obra de Burle Marx é realizada no MASP (1952 e conteúdo).
Por outro lado, o fascínio de Lina Bo Bardi pela obra de Gaudí, as discussões e a correspondência com Bruno Zevi também deve ser mais explorada. Uma perspectiva final que também deve ser explorada é a sua preservação e adequação às necessidades do Instituto Bardi, que hoje gere o espaço e o utiliza, sobretudo para ações educativas. Por enquanto, o jardim é apenas um espaço de contemplação e uma ligação entre os edifícios. A referência de Lina Bardi ao “Parque do Morumbi” e a articulação da Casa de Vidro à Capela e à área verde entorno dos dois edifícios pode ser explorada de uma maneira que a Casa assuma um papel mais relevante no contexto urbano e social do Bairro.