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professor do iau lança livro sobre a obra do arquiteto Artigas

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– dia 04/11/2014 ocorreu, na Livraria Martins Fontes da Av. Paulista, o lançamento do livro sobre a obra do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, de Miguel Antonio Buzzar.

“Ler Artigas a partir do olhar crítico de Miguel Buzzar é entrar numa teia de questões, relações, tramas narrativas e interpretativas que fazem um exercício que talvez tenha se tornado raro na discussão da arquitetura brasileira. Sua leitura aproxima e enovela a discussão da obra de Artigas em um recorte temporal preciso, recuperando algumas das referências e dimensões que se conformavam como constelação intelectual e cultural nos anos sessenta do século XX, no âmbito do que se entedia então como um país nas tramas do subdesenvolvimento e do desenvolvimentismo.

As concepções de Artigas ganham corpo em conjunto com questões que fazem emergir um Brasil que se pensava como nação e como futuro a ser construído e, posteriormente, como projeto truncado pelo golpe militar. Projetos, questões e concepções se teciam em um fazer arquitetônico que portava um conjunto de dimensões sociais e políticas, que Buzzar identifica, utilizando Chauí, como tipo nacional, vinculado a uma produção que ganhava legitimidade e se tornava hegemônica. A obra de Artigas aparece como cisão, como ato de cindir , já que desenvolve um modo de execução arquitetônica que buscava, sempre na perspectiva de Buzzar, “disputar, problematizar ” a produção hegemônica. Essa disputa se assentava, conforme as observações e documentação do autor, nas dimensões da técnica construtiva, no processo que fundava ao mesmo tempo dificuldades, possibilidades e avanços, na contramão da forma “perfeita” que se conseguia graças ao artifício. “O ato de cindir de Artigas deu-se mostrando justamente o conteúdo da construção, como ela era concretizada, explorando seus sentidos na aparência final das obras. A questão técno-construtiva foi a chave para ler o país e elaborar uma arquitetura coerente com essa leitura.” Trata-se então de ancorar a discussão da modernidade e da modernização brasileira pelo processo de construção e pelo que ele revela – atraso e modernidade, indústria e produção artesanal, projeto técnico e projeto político.

Um Artigas capaz de revisão de seus pressupostos , uma produção capaz de traduzir uma reflexão nem sempre fácil, permitem perceber o trabalho do tempo e da história no interior de um corpo documental e das interlocuções que textos, desenhos e obras permitiram mapear e interpretar em direção a algumas precisões: concepções modernas singulares, alinhadas com a reflexão cultural e política sobre o país e seus processos de modernização truncados, sobre conquistas sociais que careceram de um percurso ascendente e, ao mesmo tempo, a afirmação de leis inerentes ao campo da arte e da arquitetura, dimensões estéticas que traduziam valores, cultura e história como contraponto indispensável à alienação da técnica no contexto do processo capitalista, mesmo quando e se essa mesma dimensão técnica pudesse apontar e representar a nação em desenvolvimento, um projeto de transformação.

Por isso, o golpe de 1964 como ponto de inflexão conduziria a transformação em processo interrompido , deslocando o projeto de nação para o âmbito identificado como o da “imaginação, projetos e obras … capacitadas a conformar ações e atitudes, a sustentar e formar outra realidade e um cidadão crítico, contrário ao regime”. Essa inflexão permite a Miguel Buzzar interpelar pelo menos duas grandes questões relativas à produção de Artigas: a coerência da obra e dos textos relativos à leitura da modernização e do Moderno bem como a discussão historiográfica sobre sentidos e significados que se agregam e se conectam como “manto” e como tensão política que recobrem sua arquitetura.”

texto acima de autoria de Cibele Saliba Rizek para orelha do livro João Batista Vilanova Artigas – Elementos para a compreensão de um caminho da arquitetura brasileira, 1938-1967, de Miguel Antonio Buzzar.

capa do livro