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Nos bastidores da Livre-Docência: a trajetória de Eulalia Portela Negrelos

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A Livre-Docência é um título universitário concedido mediante concurso público para o qual podem se candidatar pesquisadores com título de doutorado. Pronto! Em pouco menos de duas linhas é possível fazer a definição desse grau acadêmico, mas conquistá-lo é uma tarefa bem mais complexa, cujos bastidores escondem esforço, dedicação e muitos anos de pesquisa.

Eulalia Portela Negrelos, docente do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU/USP), no dia 19 de fevereiro, tornou-se a mais recente Livre-Docente do IAU. Mas o título acadêmico foi pensado há quase cinco anos. Formada pela Faculdade de Belas Artes, na qual teve aulas com professores que hoje são também docentes no IAU, ela fez seu mestrado e doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), numa época em que cada um desses graus levava cinco anos para ser concluído. “Dia 25 de novembro de 2005 eu defendi o doutorado e logo depois foi aberto um concurso para professor no, à época, Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC*, que enxerguei como uma grande oportunidade”, relembra.

Tendo sido aprovada no concurso, Eulalia começou sua carreira docente na USP em 2007 e retomou a temática de habitação em suas pesquisas, sobre a qual se debruçou nos anos posteriores. Em 2008, ela começou a orientar iniciações científicas, mas foi somente a partir de 2009 que Eulalia começou a estruturar seu interesse pela compreensão do período da vigência do Banco Nacional de Habitação (BNH), sendo as Companhias de Habitação Popular (COHABs) seu principal objeto de investigação até o presente. “Eu notei que havia muitos estudos do BNH do ponto de vista econômico e social, mas não do ponto de vista da arquitetura e do urbanismo. Então, em 2010, comecei a produzir artigos para fazer interlocução em seminários”, conta.

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No mesmo ano, Eulalia montou um projeto de pesquisa e pediu auxílio financeiro à FAPESP**, que foi aprovado em 2011. “Fui estudar as COHABs de Santos, São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto e Bauru, e foram dois anos sensacionais, pois fizemos um levantamento incrível que, inclusive, está em minha tese [de Livre-Docência]. Isso tudo foi finalizado em 2013”.

No ano seguinte, ou seja, em 2014, Eulalia pensou em dar um novo direcionamento ao seu trabalho, e escreveu um projeto para FAPESP para fazer um pós-doutorado em Madrid, onde já havia morado por dois anos***. Por questões familiares, Eulalia não pôde ir para a Espanha e desistiu do pós-doutorado. E foi a partir de então que ela começou a pensar em sua Livre-Docência. “Eu havia enviado um projeto de pesquisa para o Instituto de Estudos Avançados [IEA/USP] para tirar meu ano sabático. Não fui aprovada, mas decidi mandar o mesmo projeto para a FAPESP, que o aprovou”, relembra.

Em 2018, com diversos mapeamentos feitos e a pesquisa concluída, entre aulas, orientações e outros trabalhos em andamento, Eulalia finalizou o material da Livre-Docência em agosto do mesmo ano.

O depois

Durante sua defesa, Eulalia diz que muitos questionamentos e observações foram feitos. Portanto, o próximo passo será incorporar à tese as revisões sugeridas por sua banca – o que deve consumir um bom tempo da docente, juntamente com a grande quantidade de trabalho que já faz parte de sua rotina.

No entanto, com o novo título, vem o aumento da responsabilidade, pois todo trabalho de pesquisa feito até o momento precisará, mais do que nunca, ser cuidadosamente revisado. “Mas é claro que existe o alívio por uma etapa muito difícil na carreira acadêmica já ter sido cumprida. Isso é o resultado de 39 anos entre pesquisa, docência e atividades profissionais, e estou muito feliz por ainda ter saúde e disposição para continuar fazendo minha pesquisa, dar aulas e orientar meus alunos”, celebra.

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Mas o que Eulalia faz questão de reforçar é que não basta ter o desejo da ascensão acadêmica: é preciso muita dedicação, experiência e, sobretudo, planejamento. Tendo esses três ingredientes em mãos, Eulalia foi aprovada e agora colhe os frutos. No IAU, ela é a 3ª a receber o título de Livre-Docente nos últimos oito anos****, com uma trajetória que, certamente, deve inspirar e, principalmente, servir de norte a outros docentes com a mesma aspiração e disposição de progredir em suas carreiras.

*Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP)

** Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo

***Antes de fazer o mestrado no Brasil, Eulalia fez dois anos de pós-graduação em Madrid

****As docentes do IAU, Anja Pratschke e Karin Maria S. Chvatal, defenderam suas Livre-Docências em 2018

Imagens:

Imagem 1- Eulalia, em sua formatura de graduação, em 1985 (créditos: arquivo pessoal)

Imagem 2- Eulalia (1ª fileira, 2ª pessoa da dir. para esq.) com a turma de 1984 do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (LAHAB-FAU/USP) (créditos: arquivo pessoal)

Imagem 3- Eulalia durante a defesa de sua Livre-Docência no IAU (créditos: Paulo Victor Souza Ceneviva)