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PPMS289 ESAF Foto-Joana-Francisca web

Homenagem a Pedro Paulo de Melo Saraiva

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– 29 de junho de 1933 a 16 de agosto de 2016.

Discreto, elegante e com notável desenvoltura e segurança, logo dá a conhecer sua prodigiosa e exemplar memória estimulada por um incansável interesse e prazer por arquitetura. Esse mérito o torna capaz de citar incontáveis autores e comentar com facilidade destacados projetos e construções de arquitetura. Ao observar com atenção, pode acrescentar detalhes da construção da cidade, pode sustentar opinião bem formada sobre os assuntos da profissão. Critica, mas também elogia. Com esse ânimo estabelece convicções e supera preconceito e nacionalismo. Há muito, defende a construção sistemática de arranha-céus nas metrópoles e sempre aprende com a arquitetura internacional. Dessa forma, evita a fácil postura romântica e regional.

Formado nos anos dourados da arquitetura brasileira, vai compartilhar, com sua surpreendente geração, um momento fecundo de difusão de arquitetura moderna no Mackenzie. Escola que apesar das previsíveis contradições daqueles anos, parece oferecer um ambiente destacado para aprender arquitetura oportuna e consensual. Vantagem e qualidade certamente consideradas quando, muito jovem, lhe é feito o convite para lecionar na FAUUSP.

Parece provável que um ensino focado na construção e no projeto do edifício e o contato com a tradição clássica insistente o tenham alertado das regras e da disciplina na arte e que, por isso, Saraiva preferisse entender a concepção do edifício como a busca e obtenção de ordem por intermédio de princípios, portanto, através de uma sensibilidade configuradora diversa daquela que reserva valor ao que seja novo e inventivo. Pode ser que essa adesão a uma noção moderna mais formativa tenha acompanhado o arquiteto ao longo de toda a sua vida, afastando-o do teoricismo e experimentalismo que privam a arquitetura de eficiente teoria e consequente sistema prático nos últimos sessenta anos. Sabe como fazer coisas diferentes com experiência e princípio constante. Isso ajudaria a explicar a consistência de sua arquitetura, ao permitir a distinção entre estrutura abstrata e estrutura material em seus projetos, entre a coerência moderna e a adesão à figura brasileira que reveste as operações fundamentais dos objetos. Permitiria superar a vaga e aparente dualidade entre escola carioca e escola paulista, prováveis reflexos de um mesmo fenômeno, para especular mais sobre uma expressão disseminada como é a do moderno brasileiro.

É, também, possível que essa retidão, essa insistência, ajude a entender o desconforto que Saraiva deixa transparecer com relação à arquitetura contemporânea e à arquitetura ensinada aos jovens em escolas, em instituições a que sempre esteve ligado.

Com petulância, como ele mesmo gosta de lembrar, e com a escassa experiência de recém-formados monta uma equipe para participar do Concurso para o Plano Diretor da Nova Capital. Assim começa sua trajetória como personagem ativo da história da arquitetura brasileira e expõe o entusiasmo com que abraça sua tarefa.

Saraiva deixa uma obra importante. Iniciada com irretocáveis residências unifamiliares, algumas projetadas ainda na escola, e alavancada com primeiro lugar no concurso do Edifício 5ª Avenida, São Paulo, em 1958. Outras obras notáveis são: Edifício Porto Fino, Santos, 1961; Edifício Pedra Grande, 1962; Edifício Solar do Conde, 1962; Clube XV, Santos, 1963; Edifício Albar, 1963; Sede Social Clube Esportivo Sírio, 1966; ESAF- Escola de Administração Fazendária, Brasília, 1973; Edifício Acal, 1974; Residência de Praia do Engº Mário Franco, Guarujá, 1974; Edifício Prodesp, 1975; Mercado Municipal de São Paulo, 2002; Sede CONFEA, 2007 e Reurbanização do antigo aeroporto de Ilhabela, 2014-15.

Saraiva deixa muitos amigos, colaboradores e admiradores.

Luis Espallargas Gimenez, 17 de agosto de 2016
(Foto com PPMSaraiva no auditório da ESAF, Brasília, de Joana França, em 2015)