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Cibele--SAGEEM

A arquitetura sob o ponto de vista sociológico

Cibele Saliba Rizek, docente do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU/USP), foi educada em escola com ensino de língua francesa, o que lhe rendeu a fluência no idioma desde cedo. Desde então, a França é bastante presente em sua vida, especialmente na acadêmica, na qual parcerias muito bem-sucedidas já foram- e vêm sendo- firmadas com o país europeu.

O Laboratório Misto Internacional “Social Activities, Gender, Markets and Mobilities from Below (Latin America” (LMI.SAGEMM) é um desses exemplos. Resultado de uma chamada de bolsas do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento do governo francês, que contemplou somente 17 pesquisadores do mundo, entre eles Cibele, o projeto atua em três eixos distintos: atividades: as novas fronteiras das relações de trabalho e emprego; políticas sociais e mercados; e políticas sociais: reconfigurações e conexões.

Cibele--SAGEEM

Políticas sociais e resultados eleitorias: distribuição nacional e regional de votos no primeiro turno de 2018 (créditos: Cibele Rizek)

Em poucas palavras, cada um dos eixos analisa, sob olhares diferentes, a conjunção de transformações no âmbito do trabalho, família e políticas sociais e de assistência. “A situação de trabalho é fundamental para pensar a desigualdade e a situação de pobreza”, afirma Cibele. “Nós tentamos vincular trabalho, pobreza, economia solidária, iniciativas de estímulo da participação feminina, entre outras coisas”.

Pesquisadora convidada da Sorbonne, no Departamento “Développement et Societés”, Cibele ficou na França de outubro de 2018 a janeiro de 2019 participando de várias iniciativas relacionadas ao LMI, inclusive ministrando seminários em diversas instituições francesas, explanando os resultados obtidos no LMI, que fez um estudo comparativo entre diversos países da América Latina*.

Mapas eleitorais e multiescalaridade

Durante alguns dos seminários realizados nas instituições francesas a partir da coordenação do LMI, uma das observações mais marcantes foi em relação aos locais nos quais os candidatos à presidente da última eleição brasileira receberam seus votos: onde políticas sociais (como bolsa família, Pronaf** etc.) foram mais significativos, os votos concentraram-se totalmente em Fernando Haddad. “Através desses mapas, é possível visualizar os efeitos econômicos, sociais e políticos dessas ações”, explica Cibele. “Utilizamos muito a ideia de territorialização das políticas e multiescalaridade”.

O conceito de multiescalaridade permite que, através da análise de situações no microcosmo, seja possível compreender fenômenos maiores. “Se você estudar e analisar o bolsa família num município, por exemplo, você chegará no Banco Mundial. Então, tem-se a escala global, nacional e local de um mesmo fenômeno. Por isso, a análise torna-se multiescalar, que é o que traz a riqueza da pesquisa”, elucida.

O olhar e as análises de Cibele provêm do aparato conceitual da sociologia urbana, que tem como objeto as interações humanas e a vida social em cidades e áreas metropolitanas, concentrando-se em temas como pobreza, contextos socioeconômicos, migrações, relações raciais e de gênero nos ambientes urbanos. “Uma dessas dimensões acaba por ter que considerar, a partir do diálogo com outras pesquisas e análises, o que se entende por violência urbana e militarização da gestão urbana, entre os quais as chamadas ‘organizações criminosas’ que atuam dentro e fora dos presídios e sua presença nos bairros populares”, explica Cibele. “Graças a essas organizações, acaba por se formar ‘um mercado da violência e da pacificação’, assim como também existe um mercado moral das religiões, um mercado político, e assim por diante”.

No futuro próximo

Durante sua estadia na França, Cibele, atendendo a um edital do Consulado Francês em São Paulo, que financia Cátedras para docentes daquele país no Estado, obteve uma das sete obtidas pelas universidades estaduais paulistas. Essa Cátedra, financiada pelos governos francês e brasileiro, tem como objetivo a circulação de docentes das universidades estaduais (USP, Unesp e Unicamp). A USP conseguiu quatro das sete cátedras francesas. Cibele foi contemplada com a única cátedra na área das ciências humanas e sociais, o que reforça mais uma vez a relevância de sua pesquisa.

Além disso, a docente aguarda o resultado de um projeto temático que encaminhou à FAPESP, intitulado “Reestruturação territorial e condições de desigualdade da metrópole paulistana no século XXI”, do qual também farão parte os pesquisadores Raquel Ronik (FAU/USP) e Jeroen Johannes Klink (UFABC).

*Colômbia, Chile, Argentina e Brasil

** Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar