TEMA

O tema geral escolhido para o VII ENANPARQ é Refazer, restaurar e revisar. Nesses últimos anos o sistema nacional de pesquisa e pós-graduação foi e vem sendo atacado e aviltado de várias formas; quer em termos da drástica diminuição do aporte de recursos que deveria ser observado, quer em termos de questionamentos e ações que visam a sua desqualificação. As ações do governo federal, em parte acompanhadas por governos estaduais, quando a conjuntura sanitária em função da epidemia do coronavírus exigia a máxima coordenação junto às instituições científicas e acadêmicas, caminharam no sentido contrário, ampliando o negacionismo e o obscurantismo que já haviam se manifestado anteriormente no país, junto com toda sorte de desinformação e fake news

As pesquisas e a pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo sofreram e sofrerão por muito tempo o impacto negativo desta situação, que ainda se encontra longe de ser resolvida. Em função disso, uma reflexão crítica sobre as possibilidades de atuação das associações e intuições de ensino e pesquisa, mais do que nunca, faz-se necessária.

O ano de 2022 concentra as comemorações do bicentenário da proclamação da Independência e do centenário da Semana de Arte Moderna. Apesar dos limites da Independência, que não assegurou uma autonomia política ao país nos 200 anos seguintes, e, também, apesar dos limites do nosso processo de modernização, que nos últimos 100 anos, não conseguiu firmar um compromisso social efetivo, fundamento da modernidade, podemos e devemos transformar as comemorações em uma ocasião para revermos e  reposicionarmos os sentidos de nossas práticas acadêmicas e sociais.

Refazer, restaurar e revisar o campo da pesquisa e da pós-graduação faz-se necessário, a realização deste conjunto semântico e seus significados deve ocorrer em conjunto com a sociedade. As ações que os dois primeiros verbos incorporam referem-se a fazer novamente e recuperar o que existia. Mas reconhecendo, de forma crítica, que o que tínhamos foi aviltado, porque também havia incompletudes, as ações implicam  refletir sobre os nossos procedimentos anteriores, e disso decorre o terceiro verbo, revisar, objetivando novas formulações. Desta forma, esses três verbos solicitam um complemento que lhes atribua um sentido, uma perspectiva. Assim, dois outros verbos juntam-se aos três iniciais, reinventar e reexistir.

Investigar uma reinvenção, que dê conta dos problemas vividos, visando propiciar um desenvolvimento social e acadêmico alicerçado nas lições, positivas e negativas, destes 200 anos e, particularmente, do último período, marcada pela vontade de reexistir, de ter voz, de ser respeitado, e de conquistar uma participação efetiva na vida política e social do país, ilumina a realização do VII Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, para o qual convidamos toda comunidade acadêmica a participar.Refazer, restaurar e revisar

EIXOS TEMÁTICOS

O presente eixo privilegia questões referentes ao papel do Estado e o contexto institucional no qual os programas governamentais estão ancorados; as políticas públicas, em diferentes escalas e as ações do Estado; o desmonte das políticas públicas includentes, os ataques e a construção da necropolítica; bem como a desterritorialização como política pública, além da captura do papel do estado e das instituições públicas. As concepções teóricas, incluindo políticas do comum na cidade, o marco regulatório como expressão da política pública e seus impactos, bem como a política pública como produção da exclusão sócio territorial são questões a se problematizar. Serão bem-vindos trabalhos que abordem estes temas, bem como de práticas territoriais já consolidadas e fragilizadas; de práticas insurgentes e de urbanismo coletivo. Fortalecer o debate em torno de trabalhos que tematizam essas questões ao tratarem de políticas públicas e sua relação com o território – como as de habitação, regularização fundiária, patrimônio, mobilidade, saneamento e ambientais –  contribuem para as reflexões contemporâneas dos conflitos e alinhamentos.

Coordenação: Tomás Antonio Moreira (IAU-USP), Eulalia Portela Negrelos (IAU-USP), Fabíola Castelo de Souza Cordovil (UEM), Luis Renato Bezerra Pequeno (UFC), Valéria Snitcofsky (UBA), Jefferson Oliveira Goulart (UNESP).

O presente eixo privilegia questões referentes às múltiplas dimensões – projetuais, tecnológicas, ambientais, sociais e econômicas – que permeiam as práticas e padrões arquitetônicos e urbanísticos tendo em vista a sinergia entre tais práticas e padrões e a sustentabilidade ambiental; mas também uma melhor distribuição dos recursos e dividendos econômicos e sociais. Em discussão a contribuição dos arquitetos, urbanistas e demais profissionais ligados à produção da cidade, da paisagem urbana e do território para a implementação de uma “nova agenda urbana”, como a preconizada pela Conferência HABITAT III das Nações Unidas. Serão bem-vindos os trabalhos que reflitam sobre as práticas prospectivas e projetuais de ambientes sustentáveis, não poluentes e inclusivos, o uso racional e social das tecnologias e infraestruturas construtivas e urbanas. Análises  estudos sobre as tensões e conflitos oriundos das formas de apropriação e expropriação dos espaços urbanos e rurais, bem como as experiências de territórios solidários e resilientes também serão privilegiados. Por fim, cabe destacar a importância da discussão sobre os   espaços e experiências didáticas que contribuam para a formação deste profissional engajado com os desafios do tempo presente.

Coordenação: Lúcia Zanin Shimbo (IAU-USP), João Marcos de Almeida Lopes (IAU-USP), Roberto Eustaáquio (UFMG), Andrea Naguissa Yuba (UFMS), Angel Castañeda (Universidad del Tolima, Colômbia), Anália Maria Marinho de Carvalho Amorim (FAU-USP).

Este eixo acolhe trabalhos que contribuam para uma reflexão atualizada do fazer historiográfico em arquitetura e urbanismo em face das mudanças recentes nas formas de abordar os objetos, na crítica aos parâmetros vigentes de validação e legitimidade de obras, personagens e narrativas e no reconhecimento da natureza discricionária de fontes documentais e arquivos e seu impacto nos modos de interpretar e produzir conhecimento histórico. Novas abordagens permeadas por intentos de desmontagem epistemológica que favoreçam a emergência de miradas críticas sobre os relatos, periodizações e recortes geográficos que viabilizem a configuração de cartografias mais inclusivas e a revisão da história canônica e seu panteão. O tensionamento de perspectivas eurocêntricas impulsionada por correntes como o pós-colonial, o decolonial, as questões de gênero e raça, seja no interior das histórias já constituídas ou na produção de novas narrativas à escala do objeto ou da cidade configura o horizonte atual em que a produção de conhecimento histórico em arquitetura se processa.

Coordenação: Francisco Sales Trajano Filho (IAU-USP), Joubert José Lancha (IAU-USP), George A. F. Dantas (UFRN), Priscilla Alves Peixoto (UFRJ), Maria Martina Acosta (Universidad Nacional del Litoral – Santa Fé/ Argentina), Rafael Augusto Urano de Carvalho Frajndlich (UNICAMP).

Neste eixo, pretende-se abrir o Encontro para os trabalhos sobre uma das dimensões mais aviltadas no último período, o Patrimônio Cultural. É esperado que os trabalhos desenvolvam esse eixo em suas várias e diversas escalas, processos e temporalidades, no âmbito da teoria, prática, ensino, aprendizagem, técnica e crítica. Desta forma, objetiva-se contribuir para atualizar as discussões do próprio Patrimônio Cultural, sobretudo, no campo da Arquitetura e do Urbanismo, buscando fomentar o debate sobre sua reflexão crítica, práticas vigentes e renovação. Com a transferência de importantes acervos para o exterior, além da crítica situação de inúmeros acervos culturais, de arquitetura e urbanismo no país, a discussão da conservação de acervos e da gestão de arquivos adquiriu novos contornos e veio se somar aos recorrentes aspectos da discussão dos conceitos patrimoniais, como a instrução e o aprestamento dos processos de identificação, intervenção e gestão da conservação do patrimônio cultural.
Há, portanto, um conjunto de questões a serem abordadas que abrange desde o reposicionamento da magnitude da dimensão cultural e o entendimento das ações, formas e concepções de conservação, passando pelo debate sobre as convergências e distinções entre história e memória, valoração, recuperação, conservação e restauro de bens arquitetônicos pretéritos, modernos e contemporâneos, reconstrução pós-catástrofe, instrumentos de salvaguarda do patrimônio imaterial e material, incluindo as paisagens culturais, processos e técnicas de prevenção, preservação e conservação.

Coordenação: Miguel Antonio Buzzar (IAU-USP), Paulo Yassuhide Fujioka (IAU-USP), Mônica Junqueira de Camargo (FAU-USP), Marcos Tognon (UNICAMP),  Ana Esteban Maluenda (ETSA-UPM, Universidad Politecnica de Madrid), Gabriela Godinho Lima (UPM).

O quinto eixo temático, “Intercâmbios culturais, interlocuções e redes” abrangerá a extensa gama de diálogo entre a arquitetura e o urbanismo, as artes e outros campos da cultura e do saber, práticas artísticas e sociais que compõe o chamado campo ampliado da arquitetura e do urbanismo, levantando e analisando formas emergentes de atuação e de inserção social do arquiteto urbanista na produção do espaço urbano contemporâneo.
Nesse sentido, os trabalhos podem focar questões e práticas contemporâneas que repensam matrizes anteriores de interlocução, assim como propostas mais recentes ou mesmo emergentes. Serão bem vindos trabalhos que enfocam as dimensões conceituais envolvidas nestas novas formas de diálogo como aqueles mais voltados à análise de experiências concretas. Outras questões pertinentes são as formas de trabalho emergentes que estruturam estas práticas, tais como participação, colaboração ou formação de redes, assim como os reflexos destas práticas na formação do arquiteto urbanista.

Coordenação: Fábio Lopes de Souza Santos (IAU-USP), Luciano Bernardino da Costa (IAU.USP), Gabriel Girnos Elias de Souza (Federal Rural do Rio de Janeiro), Vítor Manuel Oliveira da Silva (FAUP Porto), Jorge Bassani (FAUUSP), Eneida de Almeida (USJT).

O urbano contemporâneo traz novas possibilidades para questões relacionadas à arquitetura e ao urbanismo, à morfologia e ao tecido urbano, ainda principalmente determinados culturalmente, ao mesmo tempo em que a contemporaneidade confronta-se com a tendência de um cenário global onde a vida pública e a cultura estão relacionadas ao consumo e circulação de capitais. Em um cenário de desafios constantes devido às implicações da reestruturação econômica global, os impactos da COVID 19 influenciaram morfologias urbanas potencialmente novas, principalmente relacionadas aos modos e locais de trabalho e moradia, suas dinâmicas e práticas socioespaciais. Estamos apenas começando a compreender as transformações do ambiente urbano na esteira do COVID-19. Os piores em nossa sociedade estão piores agora do que antes. Novos desafios clássicos de “wicked problems” (Rittel e Webber, 1973) apresentados pelo COVID-19 levantam questões profundas sobre as formas convencionais e estabelecidas de projetar, planejar e habitar cidades. Destacando a importância de explorar possibilidades na pesquisa em arquitetura e urbanismo, este eixo busca investigar prospectivamente como: criar e manter espaços urbanos mais heterogêneos e habitáveis que atendam às necessidades das diversas populações urbanas; promover espaços urbanos mais equitativos explorando alternativas às estruturas urbanas pós-pandemia; e investigar eventuais alterações que, num contexto pós-pandêmico, por um lado, possam criar mais exclusão social e política e, por outro, expor a vulnerabilidade dos cidadãos num potencial aumento do uso indevido de dados e vigilância.

Coordenação: Manoel Rodrigues Alves (IAU-USP), Jeferson Cristiano Tavares (IAU-USP), Paola Berestein Jacques (UFBA), Vinicius Netto (UFF), Julio Arroyo (UNL), Jonathas Magalhães (PUC-Campinas).

O presente eixo foca as relações entre universidade e sociedade a partir das práticas extensionistas que mobilizam saberes e fazeres inerentes ao campo da arquitetura e urbanismo, e interfaces com demais campos que lidam com a produção do espaço e a cultura, em suas diversas escalas. Entende-se que, em meio ao contexto de desmonte das políticas públicas de educação, ciência e tecnologia, as práticas extensionistas, em suas múltiplas formas e dimensões, vêm se consolidando como formas potentes de construção de transversalidades entre realidades normalmente apartadas, promovendo outros arranjos entre atores sociais. Mais ainda, em contraposição à crise sistêmica do estado, produzida deliberadamente em pleno contexto pandêmico pelo governo de ocasião, as práticas extensionistas vêm experimentando alteridades em ato. A partir dessa perspectiva, interessam a este eixo trabalhos que apresentem e discutam criticamente experiências que envolvam interfaces entre extensão, ensino e pesquisa, assessorias técnicas, ações participativas e colaborativas com comunidades, trabalhos de campo, práticas de cartografia e mapeamento social, concepções e políticas institucionais de extensão universitária, reflexões teóricas sobre o papel, a história e os rumos da extensão em arquitetura e urbanismo, dentre outros temas.

Coordenação: Simone Helena Tanoue Vizioli (IAU-USP), Marcel Fantin (IAU-USP), Julio Cesar Predrassoli (UFBA), Natacha Silva Araújo Rena (UFMG), Alfonso Ippolito (Sapienza Università di Roma), Fabiana Felix do Amaral e Silva (PLUR-UNIVAP).