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Paulo Archias Mendes da Rocha: Construtor de Ideias

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_ É com pesar e tristeza que o IAU USP registra o falecimento do grande arquiteto e urbanista Paulo Archias Mendes da Rocha, aos 92 anos de idade. O arquiteto e urbanista Marcelo Suzuki teve a oportunidade de conviver com Paulo, e relembra algumas faces do seu pensamento cultural, que marcaram sua atividade e ficam como um grande legado para todos os profissionais que lutam por uma arquitetura que alie qualidade formal e sentido social.

Paulo Archias Mendes da Rocha

Tive a oportunidade de conviver com intelectuais importantes, de uma geração a qual podemos chamar de Século XX. Viveram, atuaram, agiram de um modo bem característico dessa estirpe, souberam propor e lutar para criar um mundo diferente, buscaram o extraordinário, anteviram algo novo, factível, logo ali, a ser encontrado com alguma naturalidade lógica, contra tudo e todos em sua época.

Ao mesmo tempo prestavam atenção a tudo e a todos com muita acuidade, perscrutando o que pudesse estar por trás do que fosse aparência, buscavam coisas mais profundas e interessantes do que as que estavam flutuando, atrativas, e seguiam em busca do que ainda estava por ser desvelado.

Uma das mais importantes, dentre elas, foi Paulo Mendes da Rocha. Estava constantemente, sempre, em condição de intransigência, no sentido em que Le Corbusier havia colocado. Não havia nada que pudesse passar despercebido, nada que não devesse ser obrigatoriamente questionado, esmiuçado, nada que não pudesse ter outro encaminhamento, outra solução, e, claro: outro projeto!

Essa posição fazia com que, mesmo sendo uma conversa coloquial, de botequim, nos colocasse em atenção, para formulação de ideias com consistência para emitir frases de conversa digna dentre intelectuais, fato que, na verdade, o divertia muito.

Paulo Mendes da Rocha, defendia suas ideias com vigor, sempre em nome de nova proposição, de outra maneira de se enxergar o mundo, portanto, sempre extremamente enriquecedor para trazer novos conteúdos e principalmente para se confrontar com um raciocínio diferenciado, peculiar, específico de seu jeito muito determinado

Personalidade autônoma, assim, fica claro porque nunca formulou sua Arquitetura como “escola”, sempre a colocou como absolutamente particular, pessoal, dizendo que cada um deveria desenvolver seu próprio caminho, ninguém deveria segui-lo. Afirmou isso inúmeras vezes, mesmo diante do círculo de arquitetos aficionados e desejosos de fazer parte dessa possível “escola”, seguir algum caminho orientado. Por isso é tão perceptível que Paulo, embora muito próximo ao emblemático Vilanova Artigas, mestre e, este sim, formulador de uma possível “escola”, tenha mantido uma obra diferenciada e pessoal, marcando distância da obra de Artigas.

Tudo isso traduziu-se em uma obra que muitas vezes foi alcunhada de dura, difícil ou inóspita, além do inevitável adjetivo catalográfico e apressado de brutalista. Se enfocada sob a ótica do confort burguês era, sim, inóspita e dura. Mas suas proposições estruturais e de emprego de materiais são de maestria incomum, a relação entre obra, espaço urbano e território são admiráveis antevisões desse mundo novo, diferente, talvez alcançável um dia, muito atraentes e aconchegante, tal que soa até doméstico e familiar.

As implantações dos projetos sobre o território são a maior demonstração desse domínio sobre o que é desejável humanamente, projetar, construir, edificar, no sentido mais magníficos que estas atitudes possam conter, mesmo que, por enquanto, ainda difícil de ser percebido. Tem coisas que perduram e o aprendizado pode acontecer a qualquer momento, mesmo que muito posterior ao atual.

Marcelo Suzuki
Professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo – USP
São Paulo 23 de maio de 2021

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Fotos: Aula Magna no IAU/2014 | Créditos: Paulo Ceneviva
Vídeo: Aula Magna no IAU/2014 https://www.youtube.com/watch?v=iDnfb3PBpcQ – (DigIAU – Acervo Digital do IAU)